Expedição Linha Esmeralda
Por Paula
Cortezia
A Cia. Estável
iniciou a circulação da Expedição Exceção
e a Regra em três estações da linha Esmeralda. A primeira estação visitada
marcou uma estreia cheia e participativa. Dia chuvoso, término de expediente de
toda uma semana de trabalho, os passantes naquela sexta-feira, 06 de Março,
demonstravam interesse por aquela quebra de rotina desde a montagem dos
elementos de cena. Muitos já foram se acomodando nas esteiras, outros se recostavam
nas paredes mais distantes esperando para ver “que bicho seria aquele”.
A escolha do
local de apresentação, dentro da estação, e logo atrás da catraca, garantiram
que o espaço estreito se tornasse protegido de interferências e acolhedor. O
público, em média 120 pessoas e bastante variado, colocou-se de maneira bem
próxima ao espetáculo, tanto fisicamente quanto no acompanhamento concentrado
dos eventos da cena. Participativo, não teve receio de interagir com o
espetáculo, rir alto e até dar conselho à personagem do Carregador: ”Não
entrega, não!”, referindo-se a fala dele de dar o resto de sua água para o
patrão.
Reforçando a
tendência que o grupo vinha percebendo na rua, boa parte do público dividia o
entrosamento na plateia com a intermediação do espetáculo pelo celular. Fotos,
“selfies”, vídeos. Tudo para rever imediatamente após o espetáculo. Rever e até
questionar. “Por que vocês vieram fazer isso aqui para o povão?”, perguntou uma
senhora acostumada a ir ao SESC para ver teatro. Não se enxergava parte daquele
“povão” trabalhador que circulava pela estação de trem do Grajaú. Mas estava lá
e em comunhão com aquele “povão” trabalhador do teatro.
Próxima parada,
dia seguinte, sábado, 07. Desembarque na estação Santo Amaro. Dessa vez, o
local escolhido foi no caminho entre o desembarque do trem e saída ou
transferência para a linha Lilás do metrô. Dessa vez, o espaço era mais
disperso por conta do fluxo das pessoas e interferências sonoras do trem. Nesse
contexto, e também pela característica do dia ser um sábado a noite, menos
caracterizado como momento de retorno do trabalho, gerou uma concentração maior
de jovens para assistir ao espetáculo, em um público médio de 70 pessoas.
Apesar disso, muitos passantes paravam em determinados momentos e, ainda que
com pressa, detinham-se no trajeto para espiar um pouco. Outros passantes
demonstraram irritação pela interrupção do fluxo de circulação no trem,
provocado por aquela quebra de rotina da estação, especialmente na passagem da
peça em que o elenco, com ajuda do público, monta um rio, ampliando o espaço de
representação.
Aspecto
marcante também na apresentação foi o desconhecimento dos funcionários sobre a
atividade, apesar do diálogo prévio com a CPTM e responsáveis pela estação. O
próprio banner, deixado na noite anterior com autorização para a divulgação do
espetáculo, havia sido guardado para o grupo, com a preocupação de que se
perdesse! Ao longo dos preparativos, contamos ainda com problemas técnicos de
utilização de pontos de luz, mas enfim tudo se resolveu. E, ao final do
espetáculo, a reação dos funcionários era oposta. “Vocês tem que apresentar
aqui de novo! Vamos fazer diferente da próxima vez”, disseram funcionários
empenhados em repetir a atividade.
Por fim, o
grupo fechou o final de semana e a circulação pela linha Esmeralda no domingo,
08, na estação Ceasa. Organizado em um espaço amplo dentro da estação, de
passagem da plataforma às catracas e próximo ao banheiro feminino, o grupo fez
a aposta de atingir um grupo grande de mulheres e crianças que saiam
costumeiramente naquele horário das 17h da visita aos parentes do Cadeião e se
trocavam pela estação antes de ir embora. Apresentação simbólica e importante
marcando o Dia da Mulher e discutindo intimamente a realidade daquele público
específico. Mas contamos com a adversidade: justamente por conta da
particularidade daquele dia, o horário de visita do Cadeião havia sido
alterado, o que reduziu o público estimado. Mas ainda assim contamos com a
presença de algumas famílias, mulheres e seus filhos, e outros passantes. A
marca social no público se fazia presente e era visível o cansaço e o peso
daquele momento, o que caracterizou uma apresentação e troca densa com os
presentes.
Expedição linha Rubi
Por Luis Calvo
Para a Expedição que realizamos
na linha Rubi da CPTM entramos em contato com agentes culturais/sociais da
região para em conjunto com a rede de apoio da CPTM (chefia e demais
funcionários das estações) definirmos os melhores horários e locais e
posteriormente obtermos auxílio na divulgação das apresentações. Essa escolha
se mostrou importante, visto que um dos objetivos do projeto é tentar
identificar fluxos de trabalhadores que possam vir a se tornar público
potencial para apresentações culturais. Acreditamos que durante todo o projeto
ocorrerão possíveis ajustes de horários e espaços visto que cada localidade
possui uma dinâmica de convivência própria.
Perus - 13 de
Março, sexta-feira às 20h – A apresentação foi realizada na Praça Inácio Dias
(em frente à saída da estação) local em que também é realizado o Sarau
Quilombaque.
A apresentação contou com o apoio
técnico e logístico do Coletivo Quilombaque (Grupo da região que desenvolve
atividades artísticas, políticas e sociais). Tivemos um público aproximado de
50 pessoas, formado em sua maioria por trabalhadores que retornavam às suas
casas após exaustiva jornada de trabalho. Vale destacar que a dinâmica
comumente presente em apresentações na rua (interferência de cachorros,
bêbados, barulho de carros etc), neste dia se fez notar pela figura de um
senhor alcoolizado que durante boa parte do espetáculo buscou interagir com a
história, e por vezes interferia no andamento da apresentação. Contornada a
situação, o espetáculo prosseguiu normalmente.
Francisco Morato – 14 de Março, sábado às 14h – Por indicação da
chefia da estação a apresentação foi realizada na saída próxima às catracas.
Nessa apresentação contamos com um público estimado de 70 pessoas. Por ser um
sábado foi possível notar que muitas pessoas (famílias com crianças, mães com
filhos, etc.) voltavam com sacolas de compras possivelmente realizadas no
comercio paulistano (Braz, Lapa, Luz, etc.). É importante destacar que a
relação do público durante a apresentação foi intensa o que tornou o espetáculo
mais dinâmico.
Jundiaí - 15 de Março, Domingo às 14h – Essa apresentação foi
realizada na área externa da estação, por indicação da chefia da estação.
Acreditamos que por se tratar de um domingo o fluxo de pessoas foi bem
reduzido. Apesar disso, aproximadamente 30 pessoas circularam durante a
apresentação e aqueles que se detiveram no espetáculo se mostraram muito
atentos a história e comentavam entre si sobre os temas ali abordados.
Caieiras - 21 de Março, sábado às 20h – Seguindo indicação da
chefia da estação iniciamos a preparação para a apresentação na rua próxima à
cancela de saída da estação, mas devido à chuva foi preciso deslocar a
apresentação para dentro do terminal de ônibus (área coberta). O local não era
muito indicado para apresentação (barulho dos ônibus manobrando, próximo aos
banheiros – mau cheiro, etc.), mas optamos por realizar o espetáculo assim
mesmo. Como a outra opção seria cancelar a apresentação decidimos realizar a li
mesmo, até porque a divulgação havia sido feita e algumas pessoas já se
encontravam no local para acompanhar o espetáculo. Mesmo com todos os
infortúnios (frio, chuva, barulho, mau cheiro dos banheiros, etc.) tivemos um
público estimado de 20 pessoas que acompanharam o espetáculo do inicio ao fim,
interagindo de forma dinâmica.
Franco da Rocha – 22 de Março, domingo às 14h – Essa apresentação a
principio havia sido agendada (e até mesmo divulgada!) para as 20 horas, mas
por se tratar de um domingo com clima frio e chuvoso fomos aconselhados tanto
pela pessoa responsável da estação como por agentes locais que o melhor seria
transferir a apresentação para as 14 horas, pois nesse horário teríamos a
possibilidade de ter maior fluxo de pessoas na estação. Seguindo os preciosos
conselhos, realizamos a apresentação no domingo à tarde na área de saída da
estação localizada próxima as escadas que dão acesso aos trens. A mudança de
horário foi proveitosa, pois de fato tivemos um público, que apesar de pequeno
(aproximadamente 30 pessoas) se mostrou muito interessado. Pudemos notar que
até mesmo as pessoas que se encontravam na plataforma dentro da estação
acompanhavam o que estava acontecendo ali, desde a preparação do espaço e dos
atores até a apresentação, no espaço de tempo que tinham entre sua chegada na
plataforma e a partida do trem que estavam esperando.
Chamou-nos a atenção um grupo de
uns dez garotos, aparentando ter entre 10 e 15 anos, que chegaram com um trem e
se fixaram ali desde nossa preparação até o final da apresentação e
acompanhavam atentamente tecendo alguns comentários em determinadas cenas. Em
alguns momentos pareceu-nos, por conta de suas reações, que havia certa
identificação com as situações de exploração e repulsa com as cenas de
violência e repressão ali apresentadas.
Por fim, cabe destacar a preciosa
ajuda que recebemos da Joice, uma agente cultural moradora de Caieiras que
tinha uma valiosa rede de contatos e profundo conhecimento da dinâmica social
da região. Desde nosso primeiro contato, na apresentação em Perus, Joice se
mostrou muito prestativa e disposta a nos ajudar, e nós não desperdiçamos sua
gentileza e carinho.
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